sábado, 6 de abril de 2013

Sobre o Rock e o Oculto. PARTE IV - O Rock Xamânico e as Portas da Percepção.


Nos primórdios os seres humanos sentiam-se frágeis perante as forças da natureza e temiam tudo aquilo que não conseguiam explicar ou o que fosse desconhecido, um evento das forças da natureza, uma doença, ou mesmo um encontro com indivíduos de outros clãs.


Para mediar estas carências, foram surgindo indivíduos peculiares que com sabedoria e coragem iam ao encontro do desconhecido para posteriormente explicar, acalmar e orientar os demais, uma espécie de "organizador do caos".  Assim surge o Xamã.

A palavra xamã tem sua raiz na Sibéria, vinda da palavra "saman", aparentado com o termo sânscrito "sramana" que significa: inspirado pelos espíritos.

O termo xamã foi adotado, pela antropologia, para se referir a pessoas de uma grande variedade de culturas, também chamados de bruxos, feiticeiros, curandeiros, videntes, sacerdotes, pajés, homens de cura, conselheiros, contadores de estórias, líderes espirituais e outros.

Defini-se o xamanismo como um conjunto de crenças ancestrais que estabelecem contato com uma realidade oculta, ou estados especiais (alterados) de consciência, a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio saúde para si mesmo e para as pessoas.

O xamã, não se autoproclama. Ele é chamado para suas tarefas espirituais, passa por treinamentos e então é reconhecido pelas pessoas de sua comunidade. A iniciação tem um fundamento nas bênçãos recebidas pelos instrutores que passam uma espécie de "autorização espiritual" para conduzir cerimônias. Isso é honrar o conhecimento e não usurpar, e nem banalizar o processo de iniciação espiritual. Trata-se de um sacerdócio. É uma missão de utilidade pública.

Sua vocação é demonstrada por perturbações no comportamento ( loucura controlada), vem também por transmissão hereditária, por decisão pessoal onde passa por provas (jejuns, recolhimentos, sacrifícios corporais...) ou é eleito pelo clã. Iniciado pelos espíritos tem uma vivencia de morte simbólica para posterior ressureição. Permanece dias em locais isolados sem falar, comer, e, quase sem respirar. Geralmente conta em suas provas, ao regressar de sua viagens que seus ossos foram arrancados, sua carne raspada, tem a cabeça decepada, isto é o coma iniciático. Ele deve morrer em seu corpo terrestre para renascer em corpo astral. Esqueletos de pessoas, pássaros ou animais, são alguns dos ornamentos dos siberianos. Simboliza o tempo do nascimento do xamã - meio homem - meio animal.

Os xamãs carregam o conhecimento espiritual e da vida, passados oralmente, lembrando a sabedoria dos antepassados. Eles conduzem os ritos de passagem, encorajam a comunidade para enfrentar os desafios, aglutinam a consciência comunitária, criando uma identidade grupal. O xamã é um especialista do Sagrado. Ele é capaz de mover-se entre os diversos estados de consciência. O xamã é uma pessoa que trabalha em Estado Alterado de Consciência ( estado extático, transe, estado transcendente - onde a pessoa percebe uma "realidade incomum".) e deve conhecer os métodos básicos para realizar esse trabalho. Os xamãs são grandes conhecedores da floresta, das propriedades das plantas, das estrelas, dos 4 elementos da natureza e dos animais.


Em 1947 um pequeno jovem com 4 anos de idade presenciou um acidente numa rodovia do Novo México, que anos mais tarde, viria a descrever como uma das experiências mais significativas que teve durante toda sua vida:

“A primeira vez que descobri a morte… eu, os meus pais e os meus avós, íamos de automóvel no meio do deserto ao amanhecer. Um caminhão carregado de índios, tinha chocado com outra viatura e havia índios espalhados por toda a auto-estrada, sangrando. Eu era apenas uma criança e fui obrigado a ficar dentro do automóvel enquanto os meus pais foram ver o que se passava. Não consegui ver nada – para mim era apenas tinta vermelha esquisita e pessoas deitadas no chão, mas sentia que alguma coisa se tinha passado, porque conseguia perceber a vibração das pessoas à minha volta, então de repente apercebi-me que elas não sabiam mais do que eu sobre o que tinha acontecido. Esta foi a primeira vez que senti medo… e eu penso que nessa altura as almas daqueles índios mortos – talvez de um ou dois deles – andavam a correr e aos pulos e vieram parar à minha alma, e eu, apenas como uma esponja, ali sentado a absorvê-las”.

Desde então, Douglas afirmou diversas vezes que um velho índio Xamã o acompanhava por onde quer que fosse.

Anos mais tarde, Douglas desenvolveu um gosto para leitura exageradamente incomum para um jovem de sua idade. Devido as constantes mudanças de cidades e escolas, por conta da profissão de seu pai (Almirante da Marinha), não conseguia estabelecer um vinculo e um ciclo de amizade natural como os outros garotos, se tornando cada vez mais introspectivo e tendo como única diversão a leitura.  Aos 15 anos já havia sido influenciado por Friedrich Nietzsche, Arthur Rimbaud, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, Charles Baudelaire,Molière, Franz Kafka, Honoré de Balzac, Jean Cocteaue , junto com a maioria dos filósofos existencialistas franceses.

Aos 18 anos de idade seus pais o enviaram para Flórida para concluir os estudos no St. Petersburg Junior College, onde morou um ano com seus avós. Neste período Douglas descobriu e aprendeu a gostar da vida boemia ouvindo músicas eruditas Clássicas, Jazz e o Delta Blues.

No ano seguinte iniciou os estudos na Florida State University, onde estudou dentre outras coisas Filosofia, Psicologia e Teatro. Porém estava determinado a estudar cinema e o que o impedia era a não autorização de seus pais, já que mesmo sendo maior de idade ainda dependia financeiramente dos mesmos. Aos 21 anos conseguiu finalmente convencer seus pais a iniciar seus estudos na UCLA e com isso sua vida iria literalmente virar uma doidera.

Durante sua graduação Douglas, como todo bom universitário, expandiu suas habilidades em consumir álcool e experimentar novos caminhos entorpecentes. Não era raro encontra-lo nas melhores algazarras, bebendo, fumando e usando tudo quanto fosse tipo de substancias suspeitas. Comia qualquer coisa digerível e dormia nos sofás das casas dos amigos, nas varandas, nos quintais e nos telhados. Nos telhados!

Neste período, além das chapações, Douglas continuou sendo um devorador de livros. Por acreditar numa conexão espiritual com um velho índio, buscou ler assuntos relacionados ao Xamanismo, consequentemente caiu nas literaturas Ocultistas e quase que ao mesmo tempo entrou de cabeça nos materiais de Huxley e de todos os outros escritores obscuros da geração Beat.

Em 1965 ao se formar em Cinema, podemos assim dizer, o cara despirocou de vez. Ele decidiu não aparecer em sua colação de grau por conta de desentendimentos com professores e alguns colegas de sala. Cortou todas as ligações que tinha com a família, chegando a queimar os cheques que seus pais lhe enviavam. Passou a morar e comer de favor nas casas dos amigos, conhecidos e também desconhecidos. E devido a esta circunstância nada rotineira, abandonou o habito de trocar de roupa e tomar banho. Nesta época na Califórnia, consumir drogas e álcool não era algo muito difícil, então Douglas não teve dificuldade em manter seu estado de chapação eterna. Neste momento aconteceu sua primeira prisão por desordem.

Assistindo a um jogo de futebol completamente bêbado, endoideceu, bagunçou o coreto e logo foi em cana.

Num outro momento, passeando chapadamente na praia de Venice, Douglas encontrou um de seus colegas de curso, os dois já não se encontravam há um tempo e então começaram a conversar sobre as coisas que estavam fazendo. Douglas falou a respeito de algumas poesias e musicas que escrevera e assim seu amigo teve a ideia de montar uma banda. Chamou mais dois amigos malucos e assim forma-se o quarteto James Douglas Morrison, Raymond Daniel Manczarek Jr, John Paul Densmore e Robert Alan  Krieger, mais conhecidos como Jim Morrison, Ray Manczarek, Jhon Densmore e Robby Krieger. The Doors.

Da direita para esquerda:  Jim, Ray, Robby, Jhon.


“If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite.”
(William. Blake)

Esta citação, feita por Blake,  está no livro de Huxley “As Portas da Percepção” onde o autor fala a respeito de suas experiências com a mescalina. Todos os integrantes da banda já haviam entrado em contato com as drogas alucinógenas, em especial o LSD, e todos viviam um momento extremamente psicodélico. Jim era o principal letrista da banda e por isso a maioria das músicas possuem temas ocultistas, devido a influencia que Jim absorveu de seus autores favoritos.  Todos os integrantes faziam ideia do que estava sendo falado, mas apenas Jim sabia exatamente a que se referia.


Muitas das letras de Jim possuíam referencias ocultistas e nos shows ele tinha a capacidade de entrar em transe com o auxilio de drogas psicoativas. Era comum vê-lo dançando como um índio em suas apresentações e houve momentos em que os integrantes da banda, assim como alguns espectadores, viram claramente um velho índio dançando junto com ele, que do nada desaparecia. (É, naquela época o fumo deveria ser realmente do bom).


Abaixo de Jim, nesta foto da contra capa do album 13, o busto de Mr. Crowley

Durante um bom tempo, todos os integrantes estavam na mesma sintonia lisérgica, costumavam beber, se divertir e usar juntos seus alucinógenos compartilhando assim de suas insanidades. Durante este período o quarteto estava em total harmonia. As apresentações do Doors eram imprevisíveis, a performance de Jim nos palcos, acompanhada do ritmo hipnotizante da banda, inspirava e incitava o público à loucura total. Alguns espectadores comparavam o show do Doors como uma experiencia religiosa, mas  muitas vezes os shows se tornavam um verdadeiro caos. A partir deste momento, começou a brotar grana do chão para os caras.

Acontece que, diferentemente do restante do grupo, Jim era uma pessoa de extremos e cada vez mais buscava uma forma de ir além, chegando a atrapalhar as apresentações da banda. Como aconteceu em 1968 em Amsterdã, ao chegarem à cidade foram dar uma volta pelas ruas, os malucos da região iam cumprimentá-los e dar as boas vindas ao melhor estilo europeu. Além de abraços e beijos davam também cogumelos, LSDs, baseados e o que mais tivessem em mãos. Todos aceitavam com grande alegria, Jhon, Ray, e Robby davam uns tapinhas e guardavam o restante para mais tarde, já Jim  usava e engolia tudo ali mesmo. Nesta mesma noite na apresentação, Jim subiu no palco para curtir a banda que iria abrir para eles (Jefferson Airplane), dançou e se contorceu como uma minhoca com epilepsia e em pouco tempo desabou no chão acordando apenas no dia seguinte. Nesta noite, Ray assumiu os vocais.


Houve vários outros incidentes incluindo prisões, processos por atentado ao pudor e tentativa de homicídio,  tudo isso associado ao excesso de álcool e drogas. Consequentemente alguns shows foram sendo cancelados por receio dos organizadores de que acontecesse alguma merda. E com isso os empresários deixaram de investir na banda como antes.

Outro fato interessante sobre a vida de Jim é que ele casou com uma Bruxa num verdadeiro ritual pagão. Quando Patricia Kennealy, a Bruxa, perguntou a ele antes do ritual se teria algum problema em estar renunciando tudo o que conhecia a respeito do cristianismo ele respondeu:

- Problema nenhum, podem cancelar meu direito de ressurreição”

Sua companheira desde o ínicio da banda foi Pamela Courson, que o acompanhou até o fim. Neste período do casamento, não se sabe ao certo se ele estava com ela ou se estavam separados. Jim nunca foi um exemplo de parceiro fiel, na verdade.

Com a banda em crise, a vida de Jim totalmente exposta, com tantos processos e problemas, o quarteto decide dar um tempo. Jim muda-se para frança e lá morre por overdose, aos 27 anos ( Opa! já vimos este número anteriormente, não é mesmo?) no dia 23 de Julho de 1971. Três anos mais tarde no dia 25 de Abril, também aos 27 anos, morre por overdose Pamela Courson.


Sem dúvidas, The Doors foi uma das primeiras bandas a apresentarem um estilo obscuro e sombrio. Os temas estranhos das letras, o visual de Jim (calças de couro, jaquetas e roupas pretas) e principalmente a postura desafiadora e contraventora, fizeram com que muitos jovens se interessassem por tudo aquilo que estava sendo dito e mostrado. Mas, nem só de escuridão viviam os Doors, além destes temas cabulosos, o quarteto também trazia em suas canções temas relacionados as drogas, putarias e coisas simples da vida. Como toda boa banda de Rock N Roll.




No próximo post da Série:  A Fúria dos Deuses do Metal e A Escada Celestial.


Reza a lenda que havia uma pasta especial no FBI com o nome James Douglas Morrison.

O nome do Ritual do casamento pagão de Jim é Handfasting.

Conspiradores afirmam que Jim foi executado pelo FBI, outros que sua morte foi forjada pelo próprio Jim, mas o fato é que ele confundiu uma bolsa de heroína com uma de cocaína e enfiou o nariz onde não deveria.

A música Back Door Man, refere-se ao sexo anal.

A o termo Five To One, refere-se a dar um tapinha na macaca. Cinco dedos, para um baseado.

Muitas pessoas tatuam o rosto de Val Kilmer, por engano, acreditando ser de Jim Morrison. Esta confusão se dá graças a impecável atuação de Kilmer interpretando Morrison no filme The Doors, de Oliver Stone.

Após a morte de Pamela Courson, toda a fortuna de Morrison ficou para os pais de Pam.

Mr. Mojo Risin é um anagrama de Jim Morrison.

Patricia Kennealy, a Bruxa, possui um Blog e uma conta no Blogspot (o mesmo do Heresias), que você pode conferir aqui.


To be continued...